A Secretaria da Agricultura Familiar (SAF) vai homenagear uma das maiores líderes na luta pelos direitos dos trabalhadores rurais e das quebradeiras de coco babaçu: Telmira, da comunidade Chapada da Sindá, no município de São João do Arraial. O nome do palco principal da II Feira da Agricultura Familiar, Povos Tradicionais e Economia Solidária do Piauí será o da ativista, para lembrar a sua luta. Além do nome do palco, haverá ainda um espaço dedicado às quebradeiras de coco babaçu, com um painel que conta a história de vida e de luta de Telmira.
O evento será realizado entre os dias 23 e 25 de outubro, no Espaço Rosa dos Ventos, na Universidade Federal do Piauí (UFPI), em Teresina.
Para a secretária da Agricultura Familiar do Piauí, Rejane Tavares, a história de Telmira foi muito importante para a conquista dos direitos das quebradeiras de coco e dos moradores da Chapada da Sindá.
“Desde muito cedo, Telmira lutou para garantir a sobrevivência dela e dos seus filhos. Ela é uma mulher muito forte, muito lutadora, que estruturou todo o processo ali da Chapada da Sindá, que é um assentamento do Crédito Fundiário hoje. Cada morador tem a sua casa e isso está muito vinculado a essa conquista, às lutas que a Telmira fez”, disse a gestora.
Neta de Telmira, Regina Sousa relembra a trajetória da avó e o impacto que ela deixou entre os trabalhadores rurais da região. “Falar da minha avó e falar de coragem, é quase um sinônimo. Por onde a gente passa, nas comunidades aqui de São João do Arraial, sempre ouvimos falar sobre ela e são relatos bonitos, fortes, que sempre nos emocionam. Ela pensava no bem da comunidade, nos assentamentos que foram construídos, e tinha o desejo de que todos tivessem a liberdade de colher e plantar, reforçando a importância da mulher agricultora, da mulher quebradeira de coco”, relata.
Regina também expressa a emoção e o orgulho da família com o reconhecimento da história de sua avó. “Essa homenagem é uma reafirmação de que, mesmo não estando mais presente fisicamente, ela continua viva nas histórias, nas memórias, nas conversas e nas homenagens que lhe são prestadas. E desejamos que histórias, como a dela e de tantas outras mulheres e homens, continuem sendo contadas e jamais sejam esquecidas”, afirma.
Conheça a história de Telmira da Chapada da Sindá
Maria Altemira do Nascimento, mais conhecida como Dona Telmira da Chapada da Sindá, nasceu em 27 de junho de 1947, no município de Esperantina. Trabalhadora rural e quebradeira de coco babaçu, tornou-se uma das principais líderes na luta pelos direitos das mulheres da comunidade.
Desde a década de 1980, Telmira ingressou na luta sindical, participando da criação do Movimento das Trabalhadoras Rurais da Chapada da Sindá. Ao longo de sua trajetória, enfrentou proprietários rurais e a polícia para garantir o livre acesso ao babaçu, denunciando as práticas injustas dos fazendeiros, que proibiam a coleta, ameaçavam às mulheres e impunham preços e condições injustas para a venda do produto.
Por sua liderança, foi presa em Esperantina quando sua filha caçula tinha apenas seis meses. Com o passar dos anos, Telmira e outras lideranças conquistaram o acesso à terra e criaram os assentamentos Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora Aparecida, em 2003. Hoje, esses assentamentos abrigam 52 famílias, com acesso a água, energia, áreas agrícolas, escola, quadra poliesportiva e um posto de saúde em construção.
Telmira faleceu em 2018, aos 71 anos, deixando seis filhos, dezoito netos e quatorze bisnetos. Seu cortejo foi marcado pela emoção e pelas homenagens de suas companheiras de luta, que cantaram o hino das quebradeiras de coco babaçu, símbolo de sua trajetória de coragem, luta e persistência.
II Feira da Agricultura Familiar, Povos Tradicionais e Economia Solidária do Piauí
O evento será realizado de 23 a 25 de outubro, no Espaço Rosa dos Ventos, na UFPI, em Teresina, com o tema “Agricultura Familiar é Futuro Sustentável”. A programação inclui o Encontro da Agricultura Familiar, Povos e Comunidades do Semiárido, que terá debates, oficinas e palestras sobre mudanças climáticas e resiliência dos agricultores, além da participação de cerca de 200 agricultores familiares de todos os territórios do Piauí.
O evento terá um espaço da Quitanda com a comercialização de frutas e hortaliças e também com o espaço Trança, que vai comercializar variedades de produtos artesanais ligados à agricultura familiar. A feira também contará com atrações artísticas e culturais.
A II Feira da Agricultura Familiar, Povos Tradicionais e Economia Solidária do Piauí é uma promoção do Governo do Estado do Piauí, por meio da Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), do Consórcio Nordeste e do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA). O evento é realizado pelo projeto Piauí Sustentável e Inclusivo (PSI), financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida).
A feira conta ainda com o apoio da Fundação de Apoio ao Instituto Federal do Rio Grande do Norte (Funcern), dos Institutos Federais do Rio Grande do Norte (IFRN) e do Piauí (IFPI), da Universidade Federal do Piauí (UFPI), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).